quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Revoada

Ontem eu era uma velha
Escutando discos de vinil
Em minha vitrola
Sentada na estrada
Onde não existiam sopros de vento
E onde norte-sul não podiam ser alcançados
Hoje eu me encorajo
Deixo as memórias guardadas no livro de lembranças
Coloco as fotografias na estante
E levanto – sem muletas – da minha cadeira de balanço

Bienal

A cada passada pela rua descalça
Imagino um a um
Os passos que se cruzam
A cada encostar dos pés no chão

Eu sou a “instalação dadá” naquele museu de arte contemporânea
Onde a cada gota d’água
Que janela adentra e molha
Leva consigo tudo o que esqueci de expor

O trem que eu perdi
As fotos que rasguei
O relógio cujo o tempo derreteu
Os discos que não escuto mais

Olhe para este caminho
E veja para onde ele nos levou
Uma vida inteira
E somente agora pude te encontrar

São telas diversas
A mão, a rosa, o sonho
Um corpo índigo sob sopros vários
Onde tudo se confunde

Esta noite olhando nos seus olhos
Pude perceber cada passada do pincel
Sob a tela antes crua
Onde o tempo do céu hoje não é mais cinza